sábado, 28 de maio de 2011

O professor Mário Sérgio Melo, do Departamento de Geociências da UEPG, traduz, em forma de poesia, o resgate de impressões da aventura no trabalho de pesquisa de cassiterita no Amazonas em 1973-1974

por Marilia Woiciechowski


 
Situações de intensa interação com a mata, o rio, os bugres e beradeiros traduzem a forma dos escritos, poemas, do livro “memórias amazônicas” (Toda Palavra Editora), de Mário Sérgio de Melo, que tem cerimônia de lançamento na próxima quarta-feira, 1º de junho, às 20h, no SESC Ponta Grossa. Doutor em Geociências (Geologia Sedimentar) pela Universidade de São Paulo (1995) e professor do Departamento de Geociências da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), Mário Sérgio relata que a forma dos escritos, poemas, acrescenta o ritmo e a suavidade, ao conteúdo, que considera uma integração entre o ambiente hostil da mata e a resistência dos seres humanos que a enfrentam.
 
“As memórias são extravazamentos, 37 anos depois de experiências que ficam marcadas”, diz Mário. Num resgate do tempo, ele recorda: “Junto com três colegas, um jovem estudante de geologia é contratado para participar de uma pesquisa de minério de estanho em plena selva amazônica. Os quatro inexperientes e metropolitanos jovens passam os meses de férias de verão embrenhados na mata, convivendo com garimpeiros, mateiros, bugres e as surpresas e riscos da floresta. Trinta e sete anos depois, em 33 poemas, Mário Sérgio registra as “memórias amazônicas”, a tradução das impressões marcantes daquela experiência da juventude, que emergiram na forma de um inesperado surto de escritos.
 
Poeta de Repentes
 
Geólogo e professor de profissão, Mário Sérgio (nascido em Votorantim – SP, 1952) é poeta de repentes. Ele diz: “A poesia é um saudável e necessário exercício de sensibilidade e comunicação da alma”. No compasso das lembranças, o professor Mário acrescenta que, em 1973, ele e seus companheiros de aventura tinham acabado de concluir o terceiro ano do curso de Geologia da USP (Universidade de São Paulo). Além de Mário Sérgio, o grupo que trabalhou com a construtora de São Paulo que fazia prospecção de cassiterita (minério de estanho) incluía Nilton Fornasari Filho, Daniel Cummings e Gustavo Campoverde (colega boliviano).
 
No resgate das impressões do amazonas, o autor explica que estão três poemas mais antigos – e os outros foram descritos em dezembro de 2010 e janeiro de 2011. “São na maioria recentes porque as memórias surgiram na forma de verdadeiro surto”. Entre eles, o poeta destaca “a puta voadora”, “castanheira”, “rio Roosevelt”, “canjica de castanha”, “o abraço da selva”, “três tiros”, e “a vara de queixadas”. Para Mário Sérgio, o momento de satisfação no lançamento está na possibilidade de compartilhar percepções – revelações que podem ajudar as pessoas a se tornarem seres humanos mais plenos.
 
Na Bateia da Memória
 
O professor revela que se fosse você definir o livro em uma frase seria “Hehehehe ... intrigas no Rio Roosevelt. Mário poeta garimpando na bateia da memória”. A frase é do colega Nilton Fornasari Filho – e consta a epígrafe do livro. Mário considera que essa frase deflagrou as memórias, depois que compartilhou com Nilton “a puta voadora”, primeiro poema de dezembro de 2010. “O Nilton participou comigo das pesquisas de cassiterita nos anos 1973-1974 – e que originou as memórias. Dedico o livro a ele e aos outros colegas daquela aventura.
 
A área da pesquisa ficava no município de Aripuanã, no extremo norte do Mato Grosso, às margens do Rio Roosevelt, quase na fronteira com Rondônia e Amazonas, no seio da selva. “Durante o estágio, fiz uma espécie de diário. Nele anotava desde dados de trabalho, acontecimentos inusitados, até os causos contados pelos peões, particularidades da mata, palavras desconhecidas, marcações das partidas de cacheta jogadas nos dias de folga, durante os reabastecimentos. Eram em média, a cada duas semanas, quando ‘os forasteiros’ nos reencontrávamos na sede da fazenda”.
 
Natal e Ano Novo na Mata
 
Na viagem da memória, recordando que ele e os companheiros passaram o Natal e o Ano Novo embrenhados na mata, Mário Sérgio diz: “Tudo começou nos acertos e preparativos para a viagem, que foram cercados de muita expectativa por parte dos inexperientes jovens metropolitanos, que sonhavam e ansiavam com a aventura amazônica”. Ele continua: “Saímos de São Paulo em um pequeno avião bimotor. Pernoitamos em Cuiabá. Depois passamos por Vilhena antes de chegar à clareira em meio à selva que era a sede da fazenda onde ficamos por três meses. Ela tinha um pequeno campo de pouso em terra batida, que era a porta da principal forma de contato com o mundo”.
 
Por isso, Mário Sérgio, considera as lembranças dessa aventura como marcantes. “Elas ficaram fortemente gravadas, e ressurgiram trinta e sete anos depois, sem a necessidade de rever as anotações daquela época. O autor observa que os únicos três escritos incluídos no livro, anteriores ao surto de lembranças, são “garimpeiro” (1995), “igarapé” (2004) e “Raimundo (2005). “Podemos considerá-los como precoces extravasamentos das memórias em fermentação”. Na organização dos escritos, Mário Sérgio escolheu a ordem cronológica em que os poemas foram sendo criados. “É a ordem mais fiel à força subjetiva com que as lembranças foram ressurgindo”.  
 
 

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